Por Lucas Bastos em 07/12/2019

Ao ler o título desse artigo, talvez você tenha pensado que eu me refiro a alguma oportunidade do momento ou, quem sabe, ao fato de que a bolsa vem subindo há alguns anos e você deveria aproveitar essa onda. Mas, na verdade, eu quero te mostrar outra coisa: a não ser que você, por alguma razão estranha, não deseje ser rico, nem ter uma aposentadoria tranquila e nem alcançar a sua independência financeira, você precisa começar a investir em ações o quando antes.

A renda fixa remunera cada vez menos

Ainda hoje, a maioria esmagadora dos brasileiros guardam suas economias na poupança. Uma parcela menor da população descobriu outras formas de renda fixa como CDBs, LCs, LCIs, LCAs, Debêntures, Fundos, etc. No entanto, atualmente menos de 1% da população brasileira investe em ações. Mas por que isso acontece?

São vários os motivos que afastam os brasileiros da bolsa de valores: desconhecimento do assunto, medo de perder dinheiro, pouca ou nenhuma noção de princípios básicos de investimentos, achar que a bolsa é um cassino, achar que é preciso muito dinheiro para começar a investir, etc.

Se não bastassem todos esses motivos, o Brasil tem um histórico recente de taxas de juros muito elevadas. Dessa forma, por que alguém iria se esforçar para investir em algo que exige um pouco mais de conhecimento, que apresenta um pouco mais de risco, quando podia emprestar dinheiro a juros de 40% ao ano e até mais?

No entanto, essa realidade vem mudando gradativamente ao longo das últimas duas décadas. A figura abaixo, mostra a evolução da taxa básica de juros, a Selic, desde 1999. Note como há uma tendência clara de redução da taxa, ao longo do tempo, com o último topo chegando a 14% em 2015. Além disso, o fundo anterior que foi de 7,25% em 2013 já foi superado com folga e hoje (na data que escrevo esse artigo) temos uma Selic de 5% em tendência de queda.

Evolução da Taxa Básica de Juros (Selic)

Se essa tendência de redução da taxa básica de juros no longo prazo continuar ou, pelo menos, não se reverter, os tempos de juros e ganhos elevados da renda fixa ficarão no passado e o investidor que quiser obter um retorno aceitável não poderá ficar limitado a essa modalidade.

Por que investir em ações?

Antes de mais nada, é importante entender que, para cada um dos seus objetivos, existe um tipo de investimento adequado e que investir em ações não é o ideal para todos eles. Por exemplo, a renda fixa é essencial para guardar dinheiro para emergências ou para comprar um bem no curto ou médio prazo. Já para objetivos de longo prazo como aposentadoria, independência financeira e outros, investir em ações de empresas lucrativas costuma gerar retornos muito superiores aos da renda fixa.

Mas não pode ser qualquer ação

Uma coisa que talvez você não tenha percebido ainda é que, no longo prazo, o que determina se o preço de uma determinada ação subirá ou cairá é o crescimento dos lucros. Em outras palavras, no longo prazo, o preço das ações acompanha o lucro das empresas. Por exemplo, veja a seguir a figura que mostra a evolução do preço médio das ações das Lojas Renner (LREN3) e do Lucro Líquido da empresa de 2011 a 2019. Note que, o Lucro Líquido aumenta cerca de 3 vezes no período enquanto o preço aumenta quase 6 vezes. Quem investiu R$ 10 mil nessa empresa lá no início teria hoje cerca de R$ 57 mil. Se tivesse investido em renda fixa teria algo em torno de R$ 20 mil.

Gráfico Preço vs Lucro de LREN3

Você pode ver centenas de gráficos como esse no ivalor nos quais esse padrão se repete. Quando o lucro da empresa aumenta, o preço das suas ações sobe e, quando o lucro diminui, o preço cai.

Assim como as Lojas Renner , existem dezenas de outras empresas com desempenho similar e até muito superior, como a famosa Magazine Luiza (MGLU3) que já valorizou mais de 100 vezes desde 2016 após apresentar crescimento expressivo dos lucros, resultado após resultado. No entanto, há também diversas empresas listadas na B3, de qualidade inferior, que ou deram prejuízo nesse período ou, no máximo, geraram lucros magros e, portanto, não desempenharam tão bem. Ou seja, o seu sucesso com ações vai depender fortemente das empresas que você escolher para montar sua carteira.

Você não precisa ser um especialista para ter sucesso

Não é que seja ridiculamente fácil analisar empresas e escolher as melhores de acordo com seus critérios, mas você não precisa ser um especialista no assunto, nem possuir um background matemático acima da média. Se você desenvolver a mentalidade certa e entender os fundamentos básicos que mostram se uma empresa é boa ou não, você já terá uma boa chance de sucesso.

Com o tempo, você aprenderá fazer suas análises e tomar suas decisões com independência. Mesmo que não tenha muito tempo disponível, os rankings do ivalor como Empresas, Preço/Valor, Rentabilidade e Dividendos, os Índices e as ferramentas como Comparador, Carteira entre outras, irão te ajudar a montar e gerenciar uma carteira para longo prazo com elevada probabilidade de sucesso.

Por que começar agora?

Para você compreender definitivamente porque deve começar a investir em ações agora, é importante entender como funcionam os juros compostos. Observe a simulação apresentada na figura abaixo. Para gerar esse gráfico foram consideradas rentabilidades reais (descontando inflação e impostos) de 1,6% ao ano para a renda fixa e de 11,6% ao ano para ações (já incluídos os dividendos). Com a taxa Selic em 5% ao ano e uma inflação de 3% esses números são bastante razoáveis para a renda fixa. No caso de ações, as evidências mostram que com uma boa carteira de ações é possível obter consistentemente rentabilidades ainda maiores. O valor dos aportes foi estabelecido em mil reais por mês.

Gráfico Evolução de Patrimônio

Chama atenção de imediato o valor de R$ 6 milhões alcançado com ações, contra apenas cerca de R$ 1 milhão com renda fixa, no mesmo intervalo de tempo. Para chegar ao primeiro milhão, o investidor levaria apenas 19 anos com ações, contra 35 utilizando renda fixa. Além disso, note que, a cada 5 anos, o patrimônio da carteira de ações praticamente dobra de tamanho. Já com renda fixa, é preciso um tempo muito maior para multiplicar por 2 o patrimônio.

Você pode fazer inúmeras simulações e obter resultados diferentes dos demonstrados aqui. Mas todas elas mostrarão duas coisas:

  1. No longo prazo o retorno do investimento em ações de boas empresas será muito superior ao da renda fixa;
  2. Quanto mais cedo você começar, mais rápido alcançará os valores almejados;

 

Lucas Bastos
É fundador do ivalor, doutor em computação aplicada e investe em ações desde 2006.
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