Por Lucas Bastos em 08/09/2020
Tem sido bastante comum a utilização do indicador Dividend Yield on Cost, ou simplesmente Yield on Cost (YOC), por educadores financeiros. O objetivo principal é incentivar os investimentos de longo prazo, sobretudo aqueles com foco em dividendos e rendimentos.
O uso de títulos chamativos como "É isso que vai te deixar rico!" ou ainda "O indicador definitivo..." demonstra a intenção clara de chamar a atenção do espectador para os efeitos do tempo e dos juros compostos. Nesse sentido, esse tipo de conteúdo é válido.
No entanto, em muitos casos, as simulações apresentadas utilizam premissas pouco realistas e muito exageradas. Isso pode dar a impressão para o investidor pouco atento de que a multiplicação do dinheiro dos dividendos é algo praticamente mágico.
Neste artigo, explicarei os aspectos mais relevantes do indicador Yield on Cost (YOC). Ao final da leitura, você vai entender como utilizá-lo como uma ferramenta de apoio.
Yield on Cost
O Yield on Cost é a relação percentual entre o valor distribuído em dividendos e o preço pago na compra de um dado ativo. Note que o YOC é diferente do Dividend Yield (DY), visto que esse último mede o rendimento dos proventos de um ativo com relação ao seu preço de mercado.
O YOC é calculado pela seguinte fórmula:
YOC = DPA / PMc
O DPA é o valor dos Dividendos Por Ação pagos no período (geralmente de 1 ano) e PMc é o Preço Médio de Compra do ativo em questão.
Suponha, por exemplo, a compra de 100 ações de uma determinada empresa no ano de 2018 por R$ 20,00 por ação e que, em 2019, essa empresa pagou R$ 1,00 por ação em proventos. Podemos calcular o YOC da seguinte forma:
DPA = 1,00
PMc= 20,00
YOC = 1 / 20 = 0,05 (5%)
Agora considere que o preço atual da ação no final de 2019 tenha subido para R$ 30,00. Podemos perceber rapidamente, ao analisar a fórmula, que o YOC não sofre nenhuma alteração, pois não tem relação com o preço de mercado da ação. Por outro lado, o DY dessa ação passará de 5% para 3,33%, já que este último é o rendimento dos dividendos com relação ao preço atual da ação (DY = DPA / P).
Ajuste do Preço Médio
A distribuição de proventos aos acionistas não reduz a quantidade das ações em custódia. Ou seja, os dividendos equivalem à devolução de parte do capital investido. Em outras palavras, é como se as ações tivessem sido compradas a um preço menor. O conceito do Preço Médio Ajustado (PMA) é um artifício utilizado para simular essa ideia.
A fórmula do PMA é a seguinte:
PMAatual= PMAanterior/ (1 + DPA / PMAanterior)
Note que, a cada nova distribuição de proventos, o PMA é recalculado com base no PMA anterior.
A ocorrência de proventos modifica o cálculo do YOC, substituindo o PMc da fórmula pelo PMA, resultando em:
YOC = DPA / PMA
Para saber os valores do PMA e do YOC das suas Ações e FIIs, utilize a nossa ferramenta de gestão de carteiras.
Analisemos agora algumas simulações de investimento em renda variável para entender como calcular o YOC e como ele se comporta em cenários diferentes.
Ativos com distribuição constante
Considere um investimento de R$ 1.000,00, no ano de 2001, num ativo com preço igual a R$ 10,00. Nos anos seguintes, nenhuma compra adicional foi feita e os proventos distribuídos foram utilizados pelo investidor para outros fins. Considere também que o ativo em questão permaneceu com lucros constantes por todo o período, com um DY de 5%. E, por questões de simplificação, vamos ignorar a volatilidade dos preços.
Uma vez que os lucros e dividendos ficaram constantes, os preços também permaneçam no mesmo patamar (premissa: os preços seguem os lucros no longo prazo). Sendo assim, o valor total investido, bem como o preço médio permaneceram inalterados.
Agora note como o PMA diminui e o YOC cresce, ano após ano. No final, o investidor recebe em proventos o equivalente a 35% do valor investido nas ações (após os ajustes). Além disso, a soma dos proventos é de R$ 1.000,00, ou seja, o capital investido foi totalmente devolvido ao acionista e ele continua com as mesmas ações em sua posse. O resultado total do investimento foi de R$ 1.000,00.
Apesar de 35% parecer um YOC interessante, devemos lembrar que não foi descontado o efeito inflacionário. Com certeza, após 20 anos, o valor investido inicialmente vale muito menos, bem como os proventos anuais. Isso indica que esse, provavelmente, não foi um bom investimento.
Esse cenário simula um ativo estagnado cujos lucros não crescem e, portanto, são corroídos pela inflação ao longo do tempo. Mesmo com as simplificações utilizadas, o exemplo serve para demonstrar a importância de investir em ativos de qualidade que apresentem crescimento sustentável dos lucros.
Ativos com distribuição crescente
Vamos considerar agora o investimento do mesmo valor num ativo cujos lucros e proventos crescem a uma taxa de 3% ao ano, com todos os demais parâmetros da simulação anterior mantidos inalterados.
O simples fato de apresentar lucros crescentes implica numa série de melhorias nos resultados apresentados. Primeiramente, o ativo apresenta valorização passando de R$ 10,00 para R$ 17,54 (75%). Visto que os dividendos crescem, o total distribuído é de R$ 1.343,52 (34% maior) e o YOC final é de 95,48%, quase 3 vezes maior do que no caso anterior.
Nesse caso, o investidor recebeu um valor maior em proventos e suas ações passaram a valer mais (R$ 1.754,00). O resultado total do investimento foi de R$ 2.097,52.
Mesmo sabendo que parte significativa desse valor se perdeu com a inflação, o resultado é cerca de 110% melhor que o anterior.
Reinvestimento dos Proventos
As simulações apresentadas até aqui levaram em conta que os proventos recebidos foram gastos ou utilizados para outros fins. Entretanto, na vida real, pelo menos no período de acúmulo, não queremos usufruir da renda gerada de imediato, mas utilizá-la como fator multiplicador do nosso patrimônio.
Sendo assim, vejamos como o reinvestimento dos proventos afeta a simulação anterior, ou seja, investir o mesmo valor num ativo com crescimento de lucros, reaplicando os dividendos recebidos. Todas as demais condições mantidas.
Veja que o YOC final foi de apenas 17,06%, o que poderia sinalizar um resultado pior do que o anterior. Mas, isso está longe de ser verdade. Ao reinvestir os dividendos, o ativo foi comprado a preços cada vez maiores, fazendo com que o PMA não se reduzisse tanto e, consequentemente, gerando um YOC menor no final. Contudo, os proventos pagos no ano de 2020 foram de R$ 221,55 (uma renda 2,5 vezes maior). O valor de mercado final das 253 ações acumuladas é de R$ 4.437,62 com um resultado de 3.437,62.
Contrariando o senso comum, nem sempre um valor menor no YOC implica um investimento pior. A forma como a gestão dos ativos é feita tem um impacto significativo no resultado obtido.
Conclusões
As premissas utilizadas em nossas simulações foram bastante modestas. Existem inúmeros ativos capazes de pagar um DY de 5% (veja nosso ranking de dividendos) e apresentar crescimento de lucros superiores a 3% ao ano. Além disso, a volatilidade nos preços sempre apresenta oportunidades mais atrativas de compra.
Os cenários estudados são bastante factíveis e se assemelham a situações reais. O objetivo do investidor deve ser encontrar ativos de qualidade que apresentem lucros crescentes. Dessa forma, poderá investir regularmente, com reaplicação de proventos. Esta é a forma mais eficiente e segura de acumular patrimônio para geração de renda.
Como foi demonstrado, em termos absolutos, o YOC diz muito pouco sobre o desempenho de um investimento, além de não levar em conta os efeitos do tempo e da inflação. É importante utilizar outros indicadores de retorno e rentabilidade para ver a figura completa. Além do PMA e do YOC, a Ferramenta de Gestão de Carteiras do ivalor mostra também o Resultado, o Retorno sobre o Capital Investido, bem como as rentabilidades, do Ativo, dos Proventos e Total.
Apesar dessas limitações, se corretamente interpretado, o YOC é interessante para estimar a evolução da geração de renda de um determinado ativo. É também uma ferramenta útil para manter o investidor motivado por um período longo de tempo.